quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Espírito natalino

O Natal chega e é sempre a mesma história. Shoppings lotados de pessoas correndo de um lado para outro. As ruas ficam cheias, cheias de pessoas estressadas, irritadas e com pressa, muita pressa. Até que chega a noite de Natal. E é ai que a coisa muitas vezes piora. Temos que encontrar com aquele parente que não falamos o ano todo, com aquele tio que brigamos semana passada. E por aí vai. Ficamos irritados, mal-humorados. Evitamos sentar perto da criatura na hora da ceia. Ao invés de reconciliação, vem confusão. Daí chega a hora de abrir o presente. Momento feliz? Hummm, sei não... - Como assim você me deu uma blusa G? Não percebeu que eu emagreci?

O que é o espírito de Natal afinal? Comprar, brigar, se stressar? A noite de Natal é muitas vezes regada de hipocrisia. Mas não pensem que sou contra o Natal. Só não compartilho da visão de Natal como uma data de pura convenção social e de consumo. Penso que deveriamos nos ocupar mais nessa época do ano em refletir. Precisamos comprar tantos presentes? Outro dia comentei com um amigo que eu acho que no Natal ninguém deveria comprar presente para ninguém. Que deveriamos sim nos reunir para confratenizar, para nos reconciliar... E que o dinheiro gasto em presentes seria doado. Ele me olhou e disse: mas aí você acaba com a magia do Natal! O que é a magia do Natal? Reunir pessoas em torno de uma mesa para comer peru e trocar presentes depois?

São muitas as pessoas que vivem em nosso país abaixo da linha da pobreza. Que não só na noite de Natal como em quase todas as noites do ano não tem o que comer. Crianças que não tem o que vestir nem com o que brincar. Crianças que não tem o direito de serem crianças. Então me desculpem, mas me incomodo sim com a enorme quantidade de presentes caros que trocamos em volta de uma mesa farta enquanto do lado de fora a vida é bem diferente...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Nosso Brasil é fantástico

O nosso é um país de bundas e peitos, é verdade. É no carnaval, nas novelas, nas revistas. É um país que privilegia a “beleza” e sua exposição. BBBs que fazem sucesso da noite para o dia e tornam-se celebridades só porque participaram de um reality show expondo seus corpos e falando sobre coisas que não acrescentam nada às nossas vidas. E, verdade seja dita, as meninas costumam ter mais sucesso ao deixarem “a casa”. Posam para Playboy e viram artistas de televisão. Ficam famosas, fazem novelas, campanhas publicitárias de marcas internacionais. E ganham dinheiro com isso. E a maioria sem diploma algum. E precisa?

Então qual o problema da jovem que venceu o concurso Menina Fantástica declarar em entrevista que ficou muito feliz com sua vitória e que até rezava para que isso acontecesse para que ela não precisasse passar pelo vestibular? Quem pode criticá-la?

Ela é só mais uma a sonhar em ser modelo ou atriz. Tanto faz. E para isso não precisa de diploma. Precisa de beleza e sorte. Temos em nosso brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro, uma ex-miss e ex-BBB que hoje é considerada uma “grande” artista de televisão, uma “revelação”. Resultado da combinação de beleza e sorte. E uma boa agente, claro.

A menina que não queria ter que passar pelo vestibular é só uma jovem que vive em um país tão fantástico que o próprio presidente não tem nível superior. Não me levem a mal. Não acredito sinceramente que cursar uma faculdade faça alguém melhor ou pior, nem mais inteligente. Aliás, estudei com pessoas que mal sabiam o português. Me perguntava como haviam passado no vestibular. A questão é o valor que damos para a educação. Ou melhor, a questão ainda mais crucial é: a quê damos valor?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cena Carioca

Entrei no metrô e escutei algo mais ou menos assim no alto-falante:
- Atenção senhores passageiros. Mantenham suas bolsas e mochilas na sua frente. Não deixem seu celular à mostra. A sua segurança depende de você. (?!?!)

Foi igual a uma outra vez em que uma moça foi assaltada em seu carro e uma amiga disse que a culpa era dela (da moça). Perguntei porque a culpa seria da vítima. Ela me respondeu tranquilamente: “Ué, quem manda deixar a bolsa em cima do banco!” Faltou quase dizer: “Bem feito para ela!”.

Ou eu estou doida ou o mundo é que está. O Estado não oferece educação e saúde, o que faz com que muitos partam para a criminalidade, e eu cidadão é que sou culpado? É meu dever me preocupar com a segurança pública? E qual o dever do Estado? Ganhar eleição para sediar as Olimpíadas?

Socorro! Para tudo que eu quero descer!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mulher Fruta

Queria saber porque os homens viram para olhar uma mulher, nem sempre tão bonita, passar na rua. Parece que eles estão olhando um pedaço de carne na churrascaria. Dá medo. Sempre observo isso na rua. Mas observo também que as mulheres não fazem isso, mesmo que o cara seja o Rodrigo Santoro. Porque os homens agem desta forma?

Nós somos muito mais que um belo corpo. Mas o pior é que tem mulher que gosta de ser vista como um pedaço de carne, de fruta. Haja vista a quantidade de mulher fruta que aparece em cada esquina.

Quando é que a mulher vai entender que ela é mais do que isso? Que ela pode e deve ser adimirada pelo que pensa, pelo que sente e passar a investir mais nisso! Ao invés de passar cinco, dez horas dentro de uma academia. Porque depois não adianta reclamar que o cara a trocou por outra. Foi apenas uma troca de mercadoria.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Hora do soninho

O que você faz quando bate aquele soninho no meio do expediente? Além do óbvio cafezinho, tem alguma outra idéia?

Tenho sim.

Qual?

Dormir

Dormir? Como assim?

Ué, como se dorme? Fechando os olhos e dormindo.

Mas no trabalho? No meio do expediente?

É!

Mas como? O chefe vai ver!

O chefe por acaso vai ao banheiro com você?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dias nublados

Cariocas não gostam de dias nublados. E não gostam mesmo. Eu não gosto. Quero sol, muito sol. Gosto da vida ensolarada, iluminada, alegre, feliz. Dias nublados escondem a beleza da vida. O verde não fica tão verde. O azul não é azul. Até o humor das pessoas muda.

Em dias ensolarados todos parecem sorrir mais. Em dias nublados? Vejo uma nuvenzinha em cima da testa de cada um. Parece algo automático. Talvez poucos percebam isso. Mas acontece.

Carioca gosta de sol, de praia, de vida. Dizem até que trabalham menos. Não é verdade. Trabalham igual, ou mais. A diferença é que sabem aproveitar também da beleza que é viver em uma cidade maravilhosa, tão maravilhosa que será até de sede das Olimpíadas.

Olimpíada tem tudo a ver com o Rio de Janeiro. É um evento alto-astral, um evento para dias com sol. Pena que em meio a tudo isso há a pobreza, miséria, sujeira, violência e a falta de educação de certos moradores e políticos. Moradores que insistem em avançar o sinal, jogar lixo pela janela do carro (importado, diga-se de passagem). Políticos que mais parecem ter saído de programa humorístico. Esses sim são nuvens daquelas que produzem muita trovoada. E não são passageiros... Infelizmente...

Mas tudo bem. Apesar de seus dias nublados esta é mesmo uma cidade maravilhosa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Mitos não morrem

Ontem quando começaram a sair as primeiras notícias que o astro pop Michael Jackson havia morrido foi uma comoção. O que mais eu escutava era: “Não acredito que ele morreu. Morreu mesmo?” O mesmo aconteceu com Ayrton Senna em 1995. É assim que reagimos diante da morte de um mito. Para nós, eles estão acima do bem e do mal. Estão acima até da morte.

Michael Jackson marcou a minha infância. Lembro-me até hoje da primeira vez que assisti ao clipe de “Thriller” na televisão. Fiquei tão impressionada que quase não dormi de noite. E olha que a TV não era de 42 polegadas e a transmissão não era em alta definição. E como não lembrar também de “Bad”, “Billy Jean”. Recordo-me também que, assim como eu, todas as crianças da minha idade queriam imitar o famoso “passo” do cantor. Aquele passo de dança em que ele parece estar andando para frente, mas na verdade anda para trás, e que ficou conhecido como moonwalk. Algo que só parecia possível a um mito fazer. Um passo imitado até hoje. E aquela jaqueta vermelha? Todos os meninos queriam uma.

Não há dúvida que para mim, como para toda uma geração Michael Jackson representa um mito. Diante de tanta genialidade e excentricidade, ele era mesmo quase um ser mitológico. Alguém difícil de acreditar que existia. Mas as suas fantásticas obras musicais são a prova viva não só de que ele existiu, mas como foi alguém genial e incomum.

Como dizem que mitos não morrem – e talvez venha daí aquela velha história de que Elvis não morreu - para mim, quem morreu em 25 de junho de 2009 não foi o mito que marcou minha infância. Quem morreu foi Michael Joseph Jackson, um ser-humano como nós, com uma história de vida conturbada, cheia de polêmicas, tristezas e algumas alegrias. Quem morreu foi um homem aos 50 anos de idade que sofria de inúmeros problemas emocionais e físicos. Um ser-humano que fechou mais um capítulo da história da sua vida. A nós, nos resta desejar que ele encontre a Paz.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A liberdade de ser livre

Ser livre para fazer tudo aquilo que se quer, que se deseja, é um sonho de consumo. Mas que não se pode comprar. A liberdade é uma conquista. E conquista exige empenho, perseverança, trabalho. Mas, pensando bem, é até melhor que seja assim. Ela fica com mais sabor, dá mais vontade de tê-la. Isso nos faz valorizá-la ainda mais. Se a pudéssemos comprar talvez ela ficasse esquecida no fundo de algum armário ou empoeirada dentro de alguma gaveta.

É inegável a alegria e o bem-estar que sentimos quando somos livres. Quando podemos sentir o vento, a onda do mar, o calor, o sol, o frio. Quando podemos sentir tudo, quando nos permitimos sentir tudo. Sem nenhuma censura. É dessa liberdade que falo. Da liberdade de ser.

A liberdade é um direito nosso. Não devemos nunca em nome de nada e nem de ninguém abrir mão disso. Não devemos colocá-la em dúvida. Não devemos jamais deixar de exerce-la. Ser livre é o melhor da vida. Ser livre é ter posse de si mesmo.
Podemos ser e vir a ser tudo aquilo que desejamos. E não precisamos ter nada para conseguir isso. Nem dinheiro, nem cartão de crédito. Basta que queiramos ser. Basta a nossa vontade. A liberdade é tão fantástica que nos concede a liberdade de sermos livres. Ou não. A escolha é nossa. Sempre.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Uma profissão diferente

Ela chegou apressada no consultório médico. Encostou-se à bancada e foi logo entregando a carteirinha do plano de saúde. A recepcionista perguntou:
- Primeira vez?
Ela disse:
- Sim.
- Então a senhora preenche essa ficha.
E quando ela estava preenchendo sorriu e disse:
- Eu adoro isso.
- A senhora adora o que?
- Preencher minha profissão.
Quando a recepcionista pegou a ficha e leu, fez uma cara estranha. E uma mocinha que estava do lado ouvindo a conversa e leu a ficha disse:
- Mas a senhora colocou aqui que a sua profissão é mãe! Eu achei que a senhora ia colocar que era diretora dessas empresas de nome importante...
- Não. Eu sou mãe e com muito orgulho.
- Ora. A senhora me desculpa... Mas isso toda mulher que tem filho é.
- Nem sempre, minha filha.
- Como assim nem sempre?
- É que tem mulher que sai para trabalhar e quem leva o filho na creche é a babá.
- E daí?
- E daí que quem busca o filho na creche também é a babá.
- E daí?
- E daí que quem coloca o filho para dormir...
- Já sei, já sei... É a babá!
- Pois é.
- Mas qual o problema da mãe ter babá?
- O problema? O problema é quando a primeira palavra do filho é o nome da babá.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Registros de um abraço


Tudo cabe em um abraço.
E um abraço cabe em tudo.
Abraço conforta, acolhe.
É difícil saber se é melhor abraçar ou ser abraçado.
Mas quando abraçamos não somos abraçados?
E quando somos abraçados não abraçamos?
Nem sempre. Há quem não saiba a delícia que é um abraço. Mesmo quando recebe um.



quarta-feira, 15 de abril de 2009

O muro

Faz um tempão que não escrevo por aqui. Digo por aqui pois andei exercitando a minha escrita de outro modo. Através do pensamento, do diálogo. Parece papo de maluco mas não é não. Bom, o que importa é que estou de volta! E queria falar sobre um tema que tem muito me incomodado. O tal muro. Não é o de Berlim nem da China. É aqui do Brasil mesmo. Fico me perguntando se as pessoas que defendem tal coisa tem uma pálida noção do que estão fazendo. Certamente que não. Muro nunca foi solução para nada. Educação sim. Mas essa, dizem, é utopia. Será? Se não investirmos em educação vamos investir em que? Muros? Poderia falar horas aqui sobre isso, mas tem gente que já colocou isso muito bem. Vale a pena ler o texto do antropólogo Roberto DaMatta e refletir. Refletir sobre quem somos e o que estamos fazendo com a construção de muros em uma cidade que um dia foi maravilhosa. http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/post.asp?cod_post=177524&cx=0

sexta-feira, 27 de março de 2009

Quem deve ser eliminado: Ana ou Josi?

Ana? Hã? Josi? Quem? Não faço idéia. Estou sem tempo. Ando muito envolvida com o reality show que começa de manhã quando acordo e me arrumo para sair, para ir ao banco, para ir ao supermercado. E continua durante toda a semana, 24 horas no ar. A empregada falta, a síndica aparece com um problema. A mãe liga. A vizinha chora no corredor. O engarrafamento infernal que me impede de chegar no horário em qualquer compromisso. Porque quanto mais cedo você sai de casa, parece que mais trânsito encontra pela frente e acaba chegando atrasada do mesmo jeito. Não tem saída. E se resolve pegar o metrô, pode ser pior. Acredite. Você acaba indo em pé com um empurra-empurra extremamente desagradável nesse calor senegalês.

Mas tenho que confessar que mesmo sem conhecer a tal Ana, fiquei preocupada com a moça. Pois me contaram que a tal sister é branca e tem olhos azuis... Então é melhor se cuidar, pensei. Tem gente importante que certamente quer eliminá-la.

No vale-tudo do faz-de-conta que eu sou legal, brothers and sisters (não, não é a excelente série do Universal Channel) fazem de tudo, t-u-d-o, para conquistar o tão sonhado um milhão de reais. Até mesmo fingir o que não são para angariar votos. Falam o que o povo quer ouvir. Fazem falsas promessas e juras de amor. Pelo dinheiro, vale-tudo. Ouvi dizer que algo similar acontece em Brasília. E olha o que o “prêmio” é bem mais interessante que apenas um milhão de reais e por lá não tem paredão. Não é o paraíso?

domingo, 15 de março de 2009

Cena de cinema

Fui assistir neste final de semana ao premiadíssimo "Quem quer ser um milionário?". O filme é bom, isso ninguém de fato pode negar. Tem uma linguagem dinâmica que prende nossa atenção do início ao fim ao longo de suas quase duas horas. Ficamos na torcida pelo menino, nos emocionamos com sua história de vida que, a propósito, não é muito diferente daquela de inúmeros meninos brasileiros. Mas uma cena em especial me chamou muita atenção.

Um casal relativamente jovem, por volta dos 30 anos, levantou de suas poltronas assim que as luzes se acenderam e foi caminhando em direção a saída. Na tela ainda subiam os letreiros em meio a uma animada dança com muita música indiana. Mas o casal nem se deu conta. Apenas saiu de mãos dadas. Até aí ok, cena normal em qualquer lugar, em qualquer canto do planeta. Mas o que me chamou a atenção foi o fato do tal rapaz sair carregando a bolsa da moça. Juro que não consigo entender isso... E é uma cena que sempre se repete quando vou ao cinema.

Confesso que sempre que um namorado ou ficante (desculpe mas não sei como se diz hoje, na minha época era ficante) se oferecia para carregar a minha bolsa eu já olhava meio de lado e começava a pensar em maneiras de dispensá-lo. Podia até ser o Brad Pitt ou Rodrigo Santoro. Não me importa. Carregar o meu infinito particular?? Jamais!!!!!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carta a um ilustre aniversariante

Caro amigo,

Fiquei muito preocupada contigo depois que no último dia 20 de janeiro, São Sebastião, seu padroeiro, comentou comigo que você andava meio cabisbaixo e se sentindo um pouco abandonado. Eu entendo que todo aniversariante vive, de algum modo, um momento de reflexão ao completar mais um ano de vida. E com você não seria diferente. Ainda mais para alguém que irá completar 444 anos de muita história. Mas, caro aniversariante, sorria, pois a era de astecas, incas e maias terminou. Apesar de anos de completo abandono por parte daqueles que deveriam ter cuidado de você, continuas lindo, com uma beleza natural digna de cenário de filme de Bruno Barreto com muita bossa nova como trilha sonora. E olha que em tempos de botox, carbox e afins, beleza natural é coisa rara de se ver.

Faz décadas que freqüento a sua vizinhança, as suas praias, as suas ruas. Faz décadas que fico inebriada por sua estonteante beleza (eu e dezenas de celebridades que se transformam em tietes diante de você). E como uma boa amiga que sou não poderia deixar de lhe presentear com algo em seu aniversário. Porém, a tal crise internacional afetou um pouco meu bolso, apesar de nosso presidente ter dito que isso não aconteceria por aqui. Por isso, resolvi lhe escrever essa carta para que saibas que não esqueci de você. Como esquecer de alguém tão importante em minha vida? Alguém que me viu crescer, namorar, casar. Sei que escrever carta está meio fora de moda, mas sou nostálgica mesmo. Fazer o quê?

Queria muito era ter o poder de voltar no passado só para ver suas ruas e avenidas livres de tantos carros e mendigos. Lamento muito que hoje precise conviver com tanta poluição, trânsito e violência. Imagino como deve se sentir ao presenciar choque de ordem e tropas de elite atuando no seu pedaço. Mas não se preocupe porque se eu encontrar uma máquina do tempo, juro que te convido para viajar comigo, combinado? Assim, quem sabe, podemos juntos tentar evitar que sejas trocado por um planalto que abriga até hoje tantos espécimes corruptos.
Mas preciso te confessar uma coisa. É que apesar de toda a minha admiração por quem é e pelo que representa em minha vida e na de tantas pessoas que conheço, tem algo que discordo de você. Sei que tem muito orgulho em ser anfitrião da mais antiga das festas profanas (só presta atenção porque nas redondezas tem rolado um axé que pode mudar essa história e dar um babado novo). Não que eu não goste de pierrôs e colombinas que, aliás, estão em falta. Meu problema é com a confusão. É com o caos que se instala toda vez que a festa começa. E olha que a cada ano tem começado mais cedo. Os blocos invadem as ruas e eu não consigo sair de casa. Por isso, meu amigo, não me leve a mal, mas realmente não gosto deste tal de carnaval. Como gosto muito de você, espero realmente que me compreendas e não brigues comigo por isso.

Ah! Já ia me esquecendo. Outro dia fui visitar um grande amigo seu. Aquele que ganhou o status de uma das sete novas maravilhas do mundo moderno. Ele me disse que continua de braços abertos sobre a Guanabara, baía à margem da qual você cresceu. Aliás, ficamos tentando imaginar qual não deve ter sido a emoção que sentiu Gaspar de Lemos, o explorador português, quando a avistou pela primeira vez. Conversamos por horas, falamos muito sobre o seu passado. Lembramos quando os franceses tomaram conta de você até que finalmente Estácio de Sá conseguiu a custa de muita luta a sua guarda. Lamentamos ambos não termos estado presentes durante seu nascimento. A nossa prosa, como costumam dizer seus primos mineiros, avançou madrugada adentro. Relembramos o período colonial, imperial e relembramos também aquela época em que você foi o lugar mais importante da República.

Pois é, hoje as coisas são bem diferentes. Mas, não deixe ninguém te diminuir nem falar mal de você. Posso lhe garantir que você, ilustre aniversariante, continua lindo. Continua sendo o Rio de Janeiro, fevereiro e março. Por isso, te deixo aquele abraço!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Viver ou sobreviver: qual a diferença?

Pode parecer bobagem, mas essa é uma pergunta que deveríamos nos fazer em algum momento de nossa vida e realmente refletir sobre a resposta. Viver ou sobreviver: qual a diferença?

Confesso que eu nunca tinha parado para pensar tão profundamente sobre o tema até que, pasmem, assisti ao filme Wall-E. Um desenho animado muito bem feito com um roteiro simples, mas profundo na mensagem que deseja passar. Afinal, é a Terra afundada em lixo e nós terráqueos indo viver literalmente no espaço e levando uma vida bem desinteressante. Resolvi alugar o filme com a idéia de ter um entretenimento leve em um sábado à noite. Porém no meio do filme uma frase dita por um dos personagens me fez sair daquela leveza e mergulhar em um mar de profunda reflexão. Ele simplesmente diz: “eu não quero sobreviver, quero viver”. Pois é. Foi daí que nasceu minha vontade de buscar compreender o significado de cada coisa. Meu primeiro passo, claro, foi pesquisar no dicionário.

Sobreviver, segundo Michaellis é continuar a viver depois de outra pessoa ter morrido... É subsistir depois da perda ou ruína de alguém ou alguma coisa. É escapar de... Subsistir após. Já a definição de viver é existir, é ter vida. É freqüentar a sociedade, ter convivência. Qual lhe parece mais interessante? Pensou? Bom, para mim, viver me parece ser a melhor resposta. Agora, qual lhe parece ser a mais fácil? Bem, tenho que dizer que me parece sobreviver. É ao menos a mais cômoda, a mais segura, aquela em que acreditamos ter mais controle. E nessa tentativa de controlar nossas vidas vamos sobrevivendo. E sem nos darmos conta de que com isso viramos quase robôs, seres que não se emocionam, não se relacionam. Seres que não vivem. Seres com vidas tão desinteressantes quanto a dos personagens humanos de Wall-E que vivem no espaço após terem destruído a Terra com tanto lixo e poluição.

Isso me fez lembrar de uma pessoa que conheci e com quem convivi por muitos anos. Todos os dias para ela eram iguais, sempre a mesma rotina, e era justamente isso que a fazia sentir-se, aparentemente, feliz. Enquanto uns buscam uma vida cheia de emoção, ela buscava uma vida segura, uma vida controlada. Como se fosse possível viver livre de riscos ou incertezas. Mas era nisso que acreditava. Todos os dias ela acordava e como primeira tarefa ia direto para o computador para verificar a previsão do tempo. Informação importante, claro, para quem quer saber exatamente o que vestir. Com esta preciosa informação em mãos, ela se preparava para sair de casa. Mas não sem antes checar também as condições do trânsito pela internet. Com isso poderia escolher o melhor trajeto, o mais seguro, livre de tráfego intenso. Alias tudo que era intenso, evitava. Sua vida era tão programada quanto a vida de um robô. O que ela não entendia é que as melhores coisas da vida não são previsíveis. Pelo contrario, é justamente a imprevisibilidade, a surpresa que tornam o nosso viver mais interessante. Do contrário, vamos apenas sobrevivendo a tudo e a todos.

Um dia não resisti e perguntei a ela: Qual a graça de se levar uma vida monótona, programada, planejada, asseada? Qual a graça de não experimentar a chuva molhando seu rosto? Porque não experimentar a alegria de uma vez passar a noite acordada só para ver o sol nascer? Pronto. Virei a voz do apocalipse. Ficamos um tempo sem nos falar, mas hoje somos grandes amigas e ela já começou a dar seus primeiros passos rumo a uma vida mais livre, mais leve, mais humana. Hoje ela já consegue sair de casa sem checar a previsão do tempo. Mas continua carregando sempre um guarda-chuva e um casaco independente dos 40 graus que estão fazendo na cidade. Tudo bem, digo para ela. Um passo de cada vez. Mudanças levam tempo. O importante é começar.

Pois é, Wall-E pode ter sido para muitos apenas um filme bobo e de criança, mas para mim foi muito mais do que isso. E assim como aquele personagem, eu não quero sobreviver. Quero viver. E você?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Porque o cabelo de Michelle Obama é liso?

Confesso que durante boa parte do tempo em que assisti a cerimônia de posse do novo presidente dos Estados Unidos, a pergunta que não me saía da cabeça era porque o cabelo de Michelle Obama é liso. E não só o dela, o das filhas também. Aquilo obviamente não é natural e isso me causou certa revolta. Durante a posse assistimos uma apresentação da talentosa cantora negra Aretha Franklin e da poetisa Elizabeth Alexander, também negra.

E durante as horas que assisti a cerimônia fui me dando conta de que ninguém fala da cantora branca Marisa Monte. Diz simplesmente a cantora Marisa Monte. E fui percebendo que meu desconforto com o cabelo de Michelle e suas filhas poderia estar associado a algum tipo de preconceito de minha parte. Será? Duvido. Sempre me considerei uma pessoa zero preconceituosa. Mas, de qualquer modo, resolvi procurar então na internet a definição de preconceito. E encontrei algo no site Wikipedia que me esclareceu sobre o meu sentimento em relação ao cabelo liso da nova primeira-dama norte-americana. Dizia assim: “(...) De modo geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, chamada estereótipo, exemplo: "todos os alemães são prepotentes", "todos os americanos são arrogantes", "todos os ingleses são frios", "todos os baianos são preguiçosos", "todos os paulistas são metidos", etc. (...)” Ora, na minha cabeça, no meu inconsciente “todos os negros tem cabelos encaracolados”. No meu e de muita gente, diga-se de passagem.

Isso me levou a concluir que a errada era eu e não ela. Concluí que tudo realmente não passava de puro preconceito de minha parte. Se a linda, branca e loura Gisele Bundchen aparece nas passarelas desfilando de cabelos cacheados ninguém acha estranho, pelo contrario, elogia, vira moda. Porque brancas podem ter cabelos lisos ou cacheados? Porque só elas tem o direito de escolher? Michelle também tem!

Nosso preconceito seja racial ou social é mais sutil do que imaginamos. E talvez seja por isso mesmo tão difícil combatê-lo. Cabelo liso ou cacheado... Branco, moreno, negro, índio... Rico, pobre, mendigo... Isso não importa. Somos todos humanos, iguais. Com os mesmos direitos e deveres. Ninguém é melhor ou pior pela cor do cabelo ou da pele, muito menos pela quantidade de dinheiro no bolso. Temos diferenças sim, mas é justamente isso que torna a vida e nosso convívio mais ricos e interessantes.

A mídia divulgou a vitória de Barack Obama como um momento histórico da quebra de um preconceito secular. Para mim, o cabelo de Michelle virou ícone desta mudança. Parabéns Michelle. E obrigada pela lição.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A crise da felicidade

Estava lendo o blog de uma querida amiga, um dos que recomendo (http://www.verbeat.org/blogs/escolitaealite), quando um parágrafo me fez parar a leitura no meio. O que me chamou atenção foi quando ela disse que vendia suas horas por dinheiro. Parei alguns minutos sobre essas palavras e concluí que é a mais pura verdade. Vendemos mesmo as nossas horas. E por qual preço? O da nossa felicidade.

E essa venda inclui pacote completo. Junto com ela se vão os nossos sonhos, desejos e prazeres. E tudo isso para que? Acho que ninguém sabe a resposta direito. Estamos apenas repetindo padrões de comportamento que são aceitos e legitimados como certo. Em parte para sermos aceitos, para termos a sensação de pertencimento ao grupo. Falta total de identidade nossa com nosso próprio eu. O problema é que acabamos nos sujeitando a chefes e a empregos que absolutamente não nos pertencem! Médicos que queriam ser chefes de cozinha, engenheiros que queriam ser professores, publicitários que queriam ser escritores. Todos frustrados.

Já se perguntaram por que temos sempre que ser aquilo que os outros querem? Porque fazer o que esperam que façamos? Sermos nós mesmos nos dias de hoje não está fácil. A verdade é que bancar o nosso Eu é tarefa árdua. Muitos acabam dizendo que somos loucos, inconseqüentes ou irresponsáveis simplesmente porque escolhemos ser feliz! Simplesmente porque escolhemos ver a vida de modo mais leve, sermos mais simples. Escolhermos ser diferentes, quebrar padrões, detonar paradigmas. Enquanto aqueles que buscam mais, que vivem em torno de sucessos passageiros, carros novos e capas de revista são considerados não apenas “normais”, mas, principalmente, vencedores.

Ser feliz é uma escolha. Uma escolha do que fazemos com o nosso tempo, com as nossas horas. E é por isso que eu digo: está infeliz??? Mude sua vida!! Ouse! Tenha coragem! Faça novas escolhas! Busque algo que te faça se sentir melhor, mais alegre! Ah.. Mas tem a "crise internacional"!! Crise? Que crise?? A única crise verdadeira que eu conheço é aquela de quem não consegue ser feliz.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A responsabilidade de ser livre

Chega um momento na vida em que aquilo que mais desejamos é ter o menor nível de responsabilidade possível. Ou você nunca quis agir como Lester Burnham, personagem de Kevin Spacey no filme Beleza Americana? Quem assistiu sabe do que estou falando. É um momento crucial. Não queremos talões de cheque, chefes, contas para pagar. Desejamos apenas a liberdade de fazer o que quisermos, quando e como quiseremos… e sem a menor culpa. Será que isso é possível?

Possível ou não é o que desejamos. E arduamente. Mas empenhamos nossos melhores esforços para conseguir? Reclamamos da ausência de tempo para viver a liberdade. Mas é o mundo que nos exige demais ou somos nós que nos auto-sabotamos nos enchendo de compromissos? A verdade é que para muitos o sucesso está associado a uma agenda lotada e a uma conta bancária polpuda. E ninguém quer ser fracassado. Ninguém.

Abrimos mão da nossa liberdade em nome de um sucesso efêmero. Mas existe sucesso sem liberdade? Nosso maior problema é que, com isso, nos afogamos em responsabilidades que não queremos e acabamos não assumindo a responsabilidade mais importante de todas, a de ser livre...

Máquina do tempo

Eu só queria entrar numa máquina do tempo e ter 15 anos de novo. Eu queria poder fazer tudo que meus 15 anos me permitiam fazer. Acordar sem me preocupar com nada. Somente com a cor do batom que mais iria impressionar aquela paixão platônica na escola. Eu queria de volta aquela a sensação de ser livre. Absolutamente e totalmente livre.

Sinto muita falta de não me preocupar com contas a pagar, salário a receber, chefe, trabalho... Sinto falta da sensação da ausência de responsabilidade. Queria poder ser de novo quem eu era. Queria poder me preocupar apenas com qual roupa vestir para a uma festinha hi-fi, dessas onde meninas levam um prato de doce ou salgado e meninos o refrigerante. Sou da época em que adolescentes tomavam refrigerantes ou no máximo uma cerveja escondida...

Mas parece que os tempos mudaram, eu mudei. E isso me incomoda. Muito. Mudei porque fui obrigada. O tempo me obrigou. Me obrigou a crescer e me tornar adulta sem que eu desejasse, sem que eu me sentisse pronta para isso. Engraçado que isso tudo me fez lembrar quando comecei a aprender a dirigir. Freqüentei a auto-escola por meses e meses... Todos achavam que eu já havia virado sócia. O instrutor não me agüentava mais. Mas minha insegurança, meu medo me impediam de dar o passo seguinte. De assumir o volante e controle da minha vida. O tempo passou e por circunstancias externas tive que prestar a prova e tirar a carteira de motorista. Talvez se não tivesse sido obrigada nunca tivesse tirado a carteira. A vida nos dá umas lições e o tempo é um dos seus principais professores.

A verdade é que o tempo passa e continua passando. Sempre. Implacável. Reconheço sua importância educativa, mas isso não diminui em nada a minha vontade de ter o poder de voltar no passado e ficar por lá um pouco... só um pouco. Porque depois certamente ia me bater uma enorme saudade do meu presente, de quem eu sou, do que eu conquistei, do meu marido, da minha casa. Dos meus 32 anos. Acho que somos na verdade mais paradoxais que o próprio tempo. Vivemos no presente buscando emoções do passado e sonhando com o futuro. Estamos de um jeito ou de outro, a nosso modo, viajando entre passado, presente e futuro. Então quem disse que a máquina do tempo não existe? Ela existe sim. A máquina do tempo somos nós. Então me dá licença que eu tenho um passado para visitar! E você?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Porque o sapo tem que virar príncipe?

Conto de fadas não existe, mas ainda tem gente que acredita no encontro mágico com seu príncipe encantado. E como nunca encontram o Sr Perfeição, quando se deparam com a realidade do sapo, querem a todo custo transformá-lo em príncipe! Gente, sapos são muito mais divertidos, alegres, diferentes... São lindos na sua imperfeição, na sua singularidade. Príncipes podem ser chatos, frescos, metrossexuais. Desculpem-me, mas homem que disputa espelho comigo simplesmente não dá! E quando começa a te indicar dermatologista? Socorro! Homem tem que ser gentil e sensível, claro, mas tem que ser homem.

A verdade é que penso que a vida tem mais colorido e fica bem mais interessante quando não é padronizada. Abaixo a pasteurização! Viva a diferença! Aproveite esse ano novo para curtir seu sapo e ser muito, muito feliz! E para você que anda perdendo tempo procurando por príncipes ou, pior ainda, fazendo o coitado do seu sapo sofrer para virar um... larga disso! Você está perdendo o melhor da vida. A perfeição é chata porque é impossível. Ninguém é perfeito. Nem o tal encantado... É por isso que eu sou fã de carteirinha do ogro mais fofo do pedaço. Viva a Era Shrek! Ou vai me dizer que você prefere aquele bossal loirinho do Prince Charming? Fiona sabe das coisas! Quem não está entendendo nada do que eu estou falando, por favor, assista Shrek. Imperdível. Trilogia nota dez.

O ano está apenas começando. Vamos lá! Vamos aproveitar para abandonar de vez esse ideal fictício de príncipes perfeitos que vem nos salvar em um cavalo branco e curtir mais a beleza da imperfeição do sapo nosso de cada dia. Seremos sem dúvida mais felizes. Pois vamos descobrir que sapos não precisam virar príncipes. Eles já são. De um jeito diferente, mais honesto, mais real. E, portanto, muito melhor.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ainda sobre o ano novo…

Ontem fiquei observando aquela multidão vestida de branco caminhando pela rua a espera do ano novo. Muitos usando também alguma peça de cor amarela para trazer prosperidade e dinheiro, maior preocupação ultimamente. Outros tantos dizendo que a noite de reveillon teria que ser perfeita, com muita alegria e diversão para que o novo ano também assim seja. Será? Será que o que fazemos e a cor da roupa que usamos na passagem do ano é o que determina o que acontecerá em nossas vidas? Penso que isso é uma crença ingênua de nossa parte. Mas algumas vezes necessária. Necessária para que possamos firmar o nosso pensamento no desejo de conseguir aquilo que almejamos. E é isso que importa. É isso que faz a diferença. Pautado no que pensamos, fazemos escolhas, criamos coragem para desbravar novos caminhos. A grande verdade é que todo o dia é dia de “ano novo”. Todos os dias são dias de possibilidades de fazermos novas escolhas, de encontrarmos novas maneiras de pensar e sentir. Não é preciso esperar o dia 31 de dezembro para realizar grandes mudanças em nossas vidas, mudanças estas que muitas vezes não passam de meras promessas de uma noite de verão. O dia 31 de dezembro não tem nada de mágico nem especial. É apenas um dia. Mais um dia de oportunidade de sermos melhores e mais felizes. E é para isso que nos servem todos os dias do ano. Portanto, aproveite! E delicie-se na alegria que é viver o nosso dia-a-dia. Feliz dia novo!