quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Um novo tempo

Essa semana liguei para o call-center de uma empresa e a simpática atendente, para não dizer o contrário, me disse após 40 minutos de muita reclamação: “estarei transferindo a sua ligação...”. Estarei transferindo? Esse tempo verbal eu não conheço. E olha que eu sou uma profunda conhecedora dos tempos verbais. Aliás, amo os verbos. Eles são variáveis, podem ser conjugados de diferentes formas, dependendo apenas da história que se quer contar.

Confesso que me identifico, e muito, com os verbos. Assim como eles eu posso ser simples ou composta, primitiva ou derivada. Também apresento variações de número, pessoa, modo, tempo e voz. Tudo depende do meu humor. E também admito o singular e o plural. Depende da situação. Gosto muito do indicativo, pois apresenta o fato como sendo real, positivo.

Dos três tempos verbais básicos o que mais conjugo é o presente. Mas tenho percebido que a maioria parece preferir conjugar o passado e o futuro. Só escuto frases com sonhava, vivera, brinquei, amaria, farei, viverei. Já notaram? E o que aconteceu com o indivisível presente? Teria lhe restado o dramático fim de ser apenas o passado que sobrou do futuro? Que tristeza para o presente. O meu presente. O seu presente. O nosso presente. Sem ele as nossas histórias só podem ser narradas no passado e imaginadas no futuro.

O presente pode parecer um tempo simples, sem graça. Mas temos que conhecê-lo melhor para aprender a amá-lo. Pois sem ele jamais teríamos o imperativo e o subjuntivo. Jamais poderíamos dizer: que vós sorriais, cantemos nós, não choreis vós. Sem o presente seria impossível dizer “eu te amo!”. A sua ausência significaria uma vida simples, sem graça. Uma vida cheia de melancolia e sonhos.

Por isso lhes convido a mergulhar no presente. Mas façam isso sem medo. Sem vergonha. Talvez vocês encontrem tudo aquilo que sempre procuraram. Tudo aquilo que pensavam estar perdido no passado ou que só encontrariam no futuro. Talvez vocês descubram um novo tempo, um novo presente. Um presente diferente. Um presente mais-que-perfeito.

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