segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Viver ou sobreviver: qual a diferença?

Pode parecer bobagem, mas essa é uma pergunta que deveríamos nos fazer em algum momento de nossa vida e realmente refletir sobre a resposta. Viver ou sobreviver: qual a diferença?

Confesso que eu nunca tinha parado para pensar tão profundamente sobre o tema até que, pasmem, assisti ao filme Wall-E. Um desenho animado muito bem feito com um roteiro simples, mas profundo na mensagem que deseja passar. Afinal, é a Terra afundada em lixo e nós terráqueos indo viver literalmente no espaço e levando uma vida bem desinteressante. Resolvi alugar o filme com a idéia de ter um entretenimento leve em um sábado à noite. Porém no meio do filme uma frase dita por um dos personagens me fez sair daquela leveza e mergulhar em um mar de profunda reflexão. Ele simplesmente diz: “eu não quero sobreviver, quero viver”. Pois é. Foi daí que nasceu minha vontade de buscar compreender o significado de cada coisa. Meu primeiro passo, claro, foi pesquisar no dicionário.

Sobreviver, segundo Michaellis é continuar a viver depois de outra pessoa ter morrido... É subsistir depois da perda ou ruína de alguém ou alguma coisa. É escapar de... Subsistir após. Já a definição de viver é existir, é ter vida. É freqüentar a sociedade, ter convivência. Qual lhe parece mais interessante? Pensou? Bom, para mim, viver me parece ser a melhor resposta. Agora, qual lhe parece ser a mais fácil? Bem, tenho que dizer que me parece sobreviver. É ao menos a mais cômoda, a mais segura, aquela em que acreditamos ter mais controle. E nessa tentativa de controlar nossas vidas vamos sobrevivendo. E sem nos darmos conta de que com isso viramos quase robôs, seres que não se emocionam, não se relacionam. Seres que não vivem. Seres com vidas tão desinteressantes quanto a dos personagens humanos de Wall-E que vivem no espaço após terem destruído a Terra com tanto lixo e poluição.

Isso me fez lembrar de uma pessoa que conheci e com quem convivi por muitos anos. Todos os dias para ela eram iguais, sempre a mesma rotina, e era justamente isso que a fazia sentir-se, aparentemente, feliz. Enquanto uns buscam uma vida cheia de emoção, ela buscava uma vida segura, uma vida controlada. Como se fosse possível viver livre de riscos ou incertezas. Mas era nisso que acreditava. Todos os dias ela acordava e como primeira tarefa ia direto para o computador para verificar a previsão do tempo. Informação importante, claro, para quem quer saber exatamente o que vestir. Com esta preciosa informação em mãos, ela se preparava para sair de casa. Mas não sem antes checar também as condições do trânsito pela internet. Com isso poderia escolher o melhor trajeto, o mais seguro, livre de tráfego intenso. Alias tudo que era intenso, evitava. Sua vida era tão programada quanto a vida de um robô. O que ela não entendia é que as melhores coisas da vida não são previsíveis. Pelo contrario, é justamente a imprevisibilidade, a surpresa que tornam o nosso viver mais interessante. Do contrário, vamos apenas sobrevivendo a tudo e a todos.

Um dia não resisti e perguntei a ela: Qual a graça de se levar uma vida monótona, programada, planejada, asseada? Qual a graça de não experimentar a chuva molhando seu rosto? Porque não experimentar a alegria de uma vez passar a noite acordada só para ver o sol nascer? Pronto. Virei a voz do apocalipse. Ficamos um tempo sem nos falar, mas hoje somos grandes amigas e ela já começou a dar seus primeiros passos rumo a uma vida mais livre, mais leve, mais humana. Hoje ela já consegue sair de casa sem checar a previsão do tempo. Mas continua carregando sempre um guarda-chuva e um casaco independente dos 40 graus que estão fazendo na cidade. Tudo bem, digo para ela. Um passo de cada vez. Mudanças levam tempo. O importante é começar.

Pois é, Wall-E pode ter sido para muitos apenas um filme bobo e de criança, mas para mim foi muito mais do que isso. E assim como aquele personagem, eu não quero sobreviver. Quero viver. E você?

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